segunda-feira, 25 de junho de 2012

Mary inserida no "mundinho fashion"

Então, galera, passei um tempão sumida né? Pois é, mas e daí? Grande coisa! O fato é que estou de volta e meu retorno começa por este singelo recadinho para vocês que curtem vivenciar o mundinho da moda como se fosse algo real e relevante, a ponto de fazer suas vidas e visão de mundo girarem em torno disso, ignorando totalmente o que está para além. 

E quem disse que eu também não me interesso pelo mundinho fashion? Se enganou, meu bem! Me interessa muito saber quantas famílias bolivianas trabalharam 16 horas por dia em regime de semi escravidão para produzirem por 2 reais ao dia, peças que custarão 300 na loja; me interessa saber em que favela indiana crianças costuraram à mão exclusivas e sofisticadas peças em insalubres barracos com esgoto a céu aberto passando por dentro da "confecção"; quanto de impostos a marca sonegou na importação e venda e de quanto foi sua mais valia; se um dia essa gente miserável que oferece sua mão de obra escrava terá acesso a tais bens de consumo que produzem; quantas horas extras os vendedores da loja estão fazendo para satisfazer os caprichos da pequena e mais abastada parcela que consome tais produtos dos quais verdadeiramente não precisa; qual é o impacto que estar à margem do poder de consumo causa na população menos abastada mas igualmente seduzida midiaticamente, e em seu meio social em geral; quantos poluentes foram lançados no meio ambiente pela industria têxtil e quais são seus impactos; quantos trabalhadores são mantidos em regime de escravidão nas minhas de pedras preciosas para fazerem o capital da industria de jóias girar, quantas terras foram invadidas e devastadas para isso e quantos índios e povos tradicionais foram sacrificados e assassinados, quanto sangue de animais foi derramado... Ou seja, quando abrir a revista Vogue para ver as novidades, esprema e deixe o sangue escorrer pelas suas mãos.Enfim... o mundinho fashion é muito interessante, vocês não acham?

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

O AMOR É EGOÍSTA


Acho muito engraçado quando ouço alguém falar do amor como se ele fosse um poço de libertação e redenção. Me refiro ao amor romântico mesmo. Como pode o amor ser libertador? Eu não acredito em amor livre, relacionamento aberto, tão pouco em amor tranquilo e satisfeito. O amor é uma prisão com vista para o mar, uma impiedosa relação de poder. Eu to com o Cazuza quando ele diz: “As possibilidades de felicidade são egoístas, meu amor. Viver a liberdade, amar de verdade, só se for a dois.”
Quem ama quer aquilo que ama só para si. É ou não é? Temos que ter coragem de admitir que somos egoístas quando amamos. Esse papo de amor livre para mim é coisa de gente que não tem culhão para assumir os riscos. Eu conheço um monte de gente que mete essa broca e não segura a onda. Então por que essa demagogia de “sou uma pessoa mente aberta e bem resolvida, inteligente e moderna demais para admitir que amo como uma desgraçada, que morro de ciúme... Não me rebaixo”? Ah, vá te catar, mermão! Ninguém gosta de ver quem ama sendo aboletado por outrem não! Deixe a hipocrisia de lado. O amor só cuida de si. Maior prova disso é que quando você decide se separar de alguém por não amar mais a pessoa, bem decididinho mesmo, a pessoa pode se descabelar, cortar os pulsos, que você não volta a gostar dela por causa disso. É o amor cuidando de si mesmo.


Ninguém é obrigado a ficar com ninguém. Somos livres para irmos embora na hora em que quisermos. "Se quer ficar comigo, fique comigo", como diria Clementine Kruczynski. Se não quer ficar comigo, então vá embora e faça da sua vida o que quiser, você é livre para isso. Ou seja, “ou caga, ou desocupa a moita, malandro.” Isso sim é ser moderno, isso sim é ser sincero. E isso tá longe de ser conservadorismo. Isso é papo reto. Pensamento pequeno burguês é querer arrumar teorias científicas para sustentar sua insustentabilidade. É a própria “vanguarda”. Conservadorismo é querer teorizar amor com marxismo ou anarquismo, como muitas pessoas que eu conheço. Eu também sou libertária, mas não tente mexer com o que é meu que eu viro uma tirana sem a menor culpa. Eu estou dizendo para você ser uma pessoa neurótica e desacreditar no amor? NUNCA! Eu estou dizendo justamente o contrário, para você, caso se proponha a entrar nessa onda de amor, ser sincero com o amor, tentar relaxar e entender que ele é egoísta, que vive só para si. Não existe perfeição no amor, o amor é dotado de crueldade e vaidade sim, existe apenas o que nos vale e o que não nos vale. Isso funciona comigo? É CLARO QUE NÃO! Falar é muito mais fácil do que fazer, eu não sou tão evoluída assim. Talvez se me dedicasse mais às leituras marxistas... Rsrsrs! (Comeria a empregada)
É por isso que eu fecho com o Tom Zé, porque ele fala a verdade. Amor não tem nada a ver com bondade, generosidade, nem com gratidão. “Se você tá procurando amor, deixe a gratidão de lado. O que é que amor tem que ver com gratidão, menino? Que bobagem é essa? O amor é egoísta.” É o que diz Tom Zé na música “O Amor é um Rock”, do disco “Estudando Pagode”. Eu concordo plenamente com ele. Se você quer encontrar gratidão no amor, ame a sua mãe ou o seu cachorro. A paixão não vai te poupar, ela vai comer seu coração com farofa. Ou, segundo Lobão, “a paixão não tem nada a ver com a bondade, quando bate é o alarme de um louco desejo.”

No final das contas, o importante é cada um encontrar sua própria forma de amar e encontrar alguém que esteja disposto a amar da mesma maneira, e não sacanear ninguém, não mentir para si mesmo nem para ninguém. Agora, seja lá o que for que você escolher, é preciso ter culhão para segurar a onda, pois o amor, sentimento sem caráter que é, vai te devorar. Além do mais, quem não tem cú não faz trato com pica, malandro! Esse papo de que o amor é o supra-sumo da paz e felicidade é para fazer donas de casa desavisadas assistirem uma novela atrás da outra. Se você quer saber a verdade sobre o amor, ouça o Tom Zé quando ele alerta: “Sem alma, cruel, cretino, descarado, filho da mãe. O amor é um rock e a personalidade dele é um pagode.”


Veja o clipe de “O Amor é um Rock”:

http://www.youtube.com/watch?v=q67j7VCpA-E

FOTOS:
1- Cena do filme "Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças"
2- Bilhete de aviso enviado pela clínica Lacuna no filme.
3- Nossa amada, impiedosa e rainha das sacações no filme, Clementine Kruczynski: "Eu sou só uma garota ferrada procurando por paz de espírito, cuide você da sua."

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

A um amigo ausente

Hoje você é uma ferida aberta
Hoje você é um arranhão na garganta
Hoje você é cisco nos olhos
Hoje você é calo nos pés
Que não podem caminhar
Sem sentir você
É aquela lágrima que rola
Quando algo me faz revivê-lo
Hoje você é um gosto de remorso
Em tudo que ainda dá prazer
Você é a partida perdida
É a bronca guardada no peito
Você é a beleza
E o pedido de socorro da juventude
Que se eternizou em você
Pois quando nossos rostos
Já contarem nossas histórias
Você ainda será um garoto
Com olhar infantil
E sorriso sem culpa
Você será sempre jovem
Vini, meu amor
Pois te roubaram o direito
De envelhecer conosco
E nunca contarei anos o bastante
Para me fazer esquecer você
Pois você mora dentro de mim
Vini, meu amigo

terça-feira, 29 de junho de 2010

Punheta Acadêmica

Tem um tempo que estou querendo escrever algo aqui sobre esse assunto, mas confesso que me dá preguicinha. É muito pedantismo...


Mas vamos lá. Meio do ano é tempo agitado para a vida universitária. Ou não... É época em que tem gente ingressando na universidade, gente se formando, gente viajando para os encontros nacionais... e também tem gente que só espera as férias começarem e acabarem, porque não possuem vida acadêmica para além da sala de aula. Por isso resolvi compartilhar um pouco da minha singela reflexão a respeito.

Quando você entra na universidade, acha que aquilo vai mudar sua vida. Às vezes até muda muita coisa. Nos dois ou três primeiros anos, você super valoriza o saber acadêmico, científico. Teoriza tudo, trava batalhas políticas como se fossem causas universais, ou então está ali só pra tirar a camisa nas chopadas mesmo, sem absorver nada de construtivo porque você acha que não vai precisar dialogar com o mundinho tecnocrata que você escolheu para atuar (afinal daqui a quatro anos você vai estar longe de tudo isso, trabalhando duro na empresa do papai). Você vai para os encontros de estudantes como quem vai para uma micareta, com aquela obrigação carnavalesca de se embebedar alegremente e de se envolver sexualmente com o máximo possível de pessoas que você mal conhece. Se você não segue religiosamente essa proposta, vão te desmoralizar.

Você também pode incorporar outros personagens: você pode ser o carinha pseudo várias coisas que é um vaidoso arrogante, mas come geral com aquele papinho gasto de que é pequeno burguês ser monogâmico, embora a namorada dele não esteja muito bem esclarecida sobre o assunto. Quem gosta muito dele é a feministazinha de classe média, que paga a cerveja do boteco com o cartão do papai. Ela se veste de hippie de shopping e vomita frases feitas que leu em algum livro que alguém falou que ela tinha que ler. Tem o novo sambista (afinal agora não é mais preciso se misturar para ser sambista, basta ir ao show do Casuarina na Fundição Progresso). Tem o maconheiro que não sobe o morro porque a realidade (que ele ajuda a sustentar) é muito cruel, melhor é mandar alguém buscar pra ele o suficiente pro fim de semana na Ilha do Mel com a namorada racista dele (aquela que foi duramente injustiçada pelo sistema de cotas, coitada. E o mérito, como é que fica?). Tem aquele que não percebeu que 1917 já passou e que é hora de se reinventar para revolucionar, porque o capitalismo se reinventa a cada minuto. Tem aquele que acredita que vai fazer a revolução armada, mas antes vai pregar marxismo-leninismo para o povo na CDD (ou machismo-lemismo, como diria a mãe do Zé Pequeno no livro), pois o pobre do povo precisa conhecer a verdade. Amém, igreja?

O corpo docente também não fica atrás. Se você encontrar cinco em toda a sua tragetória acadêmica que não estão ali pelo ego, é muito. A universidade é uma fogueira de vaidades. Há muitos programas de pesquisa que podem tratar dos mais diversos assuntos, mas isso depende de em quanto a CAPES está disposta a conceituar, o que pode significar uma boa valorizada no currículo Lattes do caboclo. Aliás, tá aí duas coisas com que você precisa aprender a lidar no meio intelectualóide, Lattes e CR, porque tudo vai girar em torno disso. Mas há sempre a alternativa de “largar o foda-se”.

E então você finalmente se forma e provavelmente vai continuar acreditando que inteligência tem a ver com saber acadêmico, “e você ainda acredita que um doutor, padre ou policial que está contribuindo com a sua parte para o nosso belo quadro social”, como Raul já dizia. Ou pode acontecer de você se formar e perceber que há muita vida e sabedoria lá fora e você sempre soube disso; que metade das amizades que você fez na universidade, eram amizades de ocasião; que 90% das brigas que você travou não são tão importantes agora; que 90% das ilusões que você tinha quando ingressou, foram duramente derrubadas e que você virou um intectualóide que fala muito mas não diz nada. Aí você faz um mestrado, um doutorado, você vai escrever sobre coisas que você desconhece, mas leu em algum lugar, e todos vão achar que você tem muito valor por isso.

Mas no fim das contas, vale a pena. “O doce não é doce sem o amargo” (Vanilla Sky). Apesar dos pesares, você faz verdadeiros amigos, amplia seus conhecimentos, ganha um canudo pra mostrar pra sua mãe, viaja... e depois você, que é aquele que se acha muito diferente dos anteriores, pode escrever um texto besta no seu blog besta (porque afinal você é underground), só que sem esquecer de colocar a referência nas suas citações.

Mas enquanto isso, larga um pouco do pé do Marx e olha em volta. Vem pra rua aprender o que nenhuma universidade no mundo vai te ensinar. Vem pra vida. “Caia na estrada e perigas ver” (Novos Baianos), porque o mundo acadêmico é pura punhetagem intelectual.



Referências Bibliográficas:

Gaspari, Mary. Punheta Acadêmica. Blogspot. Rio de Janeiro, 2010.

domingo, 9 de maio de 2010

Metendo a colher na vida alheia

Há muito tempo que venho percebendo que as pessoas não conhecem o limítrofe entre o que é pessoal e o que é social, o que é privado e o que é coletivo. Existe uma inversão de valores que pelo menos a mim, sempre incomodou muito.


Dia desses, durante a festa de casamento de um grande amigo meu, um dos convidados simplesmente agrediu a namorada grávida. Eu defendi a garota e me prontifiquei a testemunhar contra o agressor, disse que faria questão. Algumas pessoas me criticaram e disseram que eu não deveria me meter na vida deles, que isso era briga de casal. Algumas pessoas me disseram que não deveríamos levar o caso à polícia porque ele era nosso amigo. Me revoltei, é claro! Não tem essa! Violência não é problema pessoal de ninguém, é um problema social e deve ser combatido como tal. O agressor alegou que ninguém tinha o direito de se envolver na vida dele. Eu pensei: “engraçado... ninguém deve se envolver na vida dele, mas ele pode envolver todos nós na covardia dele, ele pode estragar o casamento do amigo, ele pode desrespeitar o dono da casa... o direito à privacidade só vale para encobrir o ato dele, mas não vale para proteger as outras pessoas, principalmente a namorada agredida, dos impulsos violentos do sujeito.” Eu acho inaceitável que esse pensamento de “em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher” ainda habite a cabeça das pessoas.

Outro dia fui mostrar à minha mãe que os novos inquilinos que criam passarinhos na gaiola (o que já vem me incomodando desde que eles chegaram), cobriram uma das gaiolas e o pobre do passarinho ficava parado na única brecha descoberta da gaiola. Ele estava claramente sofrendo, mais ainda do que já sofre normalmente por viver trancafiado numa gaiola. Eu pedi a minha mãe que falasse com a vizinha, já que minha mãe tem mais contato com ela, que o passarinho estava sofrendo e que talvez fosse melhor descobrir a gaiola ou mudar o bichinho de lugar. Isso porque não posso denunciar ao Ibama, porque os vizinhos já mostraram a licença. Minha mãe mandou eu não me meter na vida dos outros. Me revoltei, é claro! A única vida que estava em jogo ali era a do passarinho. Não tenho que me omitir diante de uma situação de injustiça ou opressão cometida pelo alheio, porque injustiça não é uma questão individual de ninguém, é problema meu, é problema nosso.

Outra coisa que me desperta a indignação é a falta de educação das pessoas em espaços públicos. Muita generosidade... compartilhar fumaça de cigarro, fumando no mesmo espaço (qualquer lugar que não seja a casa do fumante) que pessoas que não optaram pela vida tabagista e que deveriam ter assegurado seu direito de não ingerir nicotina. Se eu quiser fumar, eu compro um maço de Malboro e fumo. Não preciso pegar carona no câncer alheio. Acho que as campanhas antitabagistas deveriam abandonar o papo de que cigarro faz mal para o fumante, e se concentrarem somente nos não fumantes, que são os verdadeiros interessados. Além da nicotina, também há os generosos que compartilham vírus no ônibus, tossindo desprotegidamente na cara da gente; os que compartilham suas conversas de celular falando altíssimo em meio às outras pessoas; os que compartilham seus gostos musicais duvidosos em espaços coletivos, ao invés de usarem fone de ouvido; os que compartilham o lixo que seu consumismo inconsequente produz largando a sacola de mercado na praia; e por aí vai...

Definitivamente o povo brasileiro é muito generoso. Adora tornar público o que não interessa (vide revistas e programas de fofocas de “celebridades”) e se omite diante do que realmente é de interesse público. Não consigo entender essa nossa lógica: Se o cara agride a companheira = problema dele; se um cara é homossexual = problema nosso; se a pessoa não respeita a integridade física de um animal = problema dela; se a pessoa opta por fumar = problema nosso; se a pessoa é morta pela polícia = problema dela; se a garota vai para a faculdade de saia curta = problema nosso; se há crianças nas ruas viciadas em crack = problema delas; se a fulaninha de tal da novela se separou do fulaninho de tal da seleção = problema nosso.

Será que para que tomemos como problema nosso um caso de violência de gênero, a vítima tem que ser a Luana Piovani ou a Rihanna? Olhe em volta. Há muitas Marias, Cristinas e Anas precisando que você meta a colher, o garfo e a faca na vida delas. O que não falta no mundo, são situações de injustiça clamando para que metamos a colher nelas. Até quando vamos ignorá-las em pról do que não nos diz respeito?

sábado, 27 de março de 2010

Quem desinventou o amor? Me explica por favor. - A lenda da mágoa iminente

Ok, personas, este humilde e anárquico espaço esquecido nos confins da Web não é só dedo na ferida, aqui também há lugar para divagações mais... digamos... enfim... afetivas, se é que vocês me entendem. Tudo bem, tudo bem, é isso mesmo. Após três meses de silêncio, a primeira postagem de 2010 vem para, como diria o síndico Tim Maia, “falar de amor, somente de amor”.

Eu tenho uma indagação a fazer: quem foi a primeira pessoa, na história da humanidade, que magoou e desapontou alguém que a amava? Essa eu não sei responder, o que eu sei é que seja lá quem tenha sido, sua atitude reverbera até hoje e cada vez mais nas relações afetivas das pessoas.

Você ainda se lembra de como você era aberto, cativante, esperançoso e confiante no amor, quando você era adolescente? E o que aconteceu de lá pra cá? Aposto que tudo começou quando você se envolveu com uma pessoa pra quem você doou o melhor de si, e que acabou te magoando tão profundamente que você não quis dar outra chance ao azar e, ao se envolver com a pessoa seguinte, pagou na mesma moeda. Essa segunda pessoa, fez o mesmo com outra, que fez o mesmo com outra... que fez o mesmo com outras... que até fizeram o mesmo com você novamente... E enquanto isso, a lenda da mágoa iminente se espalha entre nós, como uma espécie de vírus incontrolável, passando por cima dos sentimentos de bons e maus, desinventando o amor.

De quantos possíveis bons amores você já abriu mão temendo a mágoa iminente? E quantos você já destruiu antes que a mágoa iminente o fizesse? Quantos relacionamentos alheios você já abalou ou fez desmoronar acreditando que se a mágoa iminente não poupa ninguém, não vai ser você quem vai poupar? Por quantas pessoas já chorou? Quantas já fez chorar? Quantas vezes se convenceu de que o amor está morto ou nunca existiu, e que se existe, não vai com a sua cara? E quantas vezes já voltou atrás? Quantas pessoas você já contaminou com o vírus da mágoa iminente? Toda vez que nos sentirmos decepcionados por alguém, ou que tivermos medo, ou que não conseguirmos sentir nada, devemos nos lembrar que todos nós temos dado nossa parcela de contribuição para que isso acontecesse, e que no meio da “sacanagem” de outra pessoa, existe uma pitadinha da nossa também.

A verdade é que todos nós queremos acreditar em algo, mesmo que esse impulso positivo esteja escondido, trancado num baú empoeirado, nos porões do nosso íntimo. Todos queremos sentir algo, mesmo quando desejamos sinceramente arrancar nosso coração do peito e jogar numa lixeira pra ele não causar problemas indesejáveis. Todos nós queremos poder um dia confiar a alguém que mereça, a nossa lealdade, com o mesmo desprendimento com o qual o fazíamos quando éramos inocentes. Mas por covardia ou auto proteção, nós evitamos, nos fechamos, desmoralizamos o amor e profanamos todas as suas vertentes. É verdade que ele não vive mesmo dando mole por aí, se oferecendo, mas é verdade também que sempre tem um momento em que ele te encurrala num canto, te chama pra conversar, e é nessa hora que, em grande parte das vezes, podemos ver pessoas que são perfeitamente certas umas para as outras, que se querem de verdade, que querem acreditar umas nas outras, recuarem. Elas provavelmente jamais saberão que o que elas queriam e sentiam e pensavam, era exatamente a mesma coisa, mas por não terem mais forças para acreditar, depois de tantas mágoas, tantas traições, tantas decepções, tanta frieza, elas nunca se deram a chance de viver e reinventar o amor, o seu próprio amor. É... porque o amor não é um bem de consumo com um manual, amar é justamente tudo o que não é o contrário disso, é a anti-corrupção humana. Por isso, não devemos nos ater a esses papos caretas de que homens são assim, mulheres são assado, monogamia não existe, lealdade é coisa de cachorro, etc... Todas essas máximas são subterfúgios que usamos para justificar nossa própria, desculpem, “falta de culhão” e falha de caráter pessoal.

Estamos indo por um caminho triste e obscuro, coberto por insegurança, mesquinharia, mediocriodade, rancor (admito minha enorme contribuição nesse quesito), mentiras e vinganças pessoais. Será que deixar de sentir é mesmo a melhor solução? Será que não existe a menor possibilidade de revermos tudo isso? Será que não podemos parar de julgar uns aos outros superficialmente? Será que sempre vão existir os “personagens clássicos” das relações como as conhecemos? Como a mulher boba, dependente, pegajosa e manipuladora que geralmente é identificada como namorada ou esposa; o homem mentiroso, frouxo, indelicado e infiel que geralmente é identificado como namorado ou marido; a mulher de personalidade forte, convicções próprias e espírito livre que é geralmente identificada como amante em potencial (alguém que você acha que vai aliviar o tédio da sua vidinha burocrática e sem paixão, sem cobrar nada em troca) e nunca namorada ou esposa; a mulher cínica, bem humorada, hora inteligente, hora comum ou vulgar, que geralmente é identificada como amante de fato; o homem sensível, confuso e amável que é geralmente identificado como corno. E por aí vai... Será que vamos continuar sempre encenando esses mesmos papéis, nos atribuindo funções sociais que não escolhemos? Precisamos mesmo continuar seguindo com a reprodução desse mais do mesmo? Vamos continuar nos relacionando mal e porcamente uns com ou outros simplesmente por medo da solidão, representando a idéia de amor como algo medíocre? Nenhum de vocês está no seu limite ainda, não? Porque se estiverem, vamos precisar de um esforço coletivo para poder nos convencer de que – recorrendo mais uma vez ao meu guru Belchior - “amar e mudar as coisas interessa mais.”

A única questão é: quem tem coragem de ser o primeiro a se habilitar?


(A imagem é do filme "Amores Possíveis" e o título é uma homenagem aos 50 anos do maior "ídolo" que já tive na vida, Renato Russo, o cara que compôs a trilha sonora da minha vida.)

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Aaaah, o natal...

Então é natal... tranquem suas chaminés, recolham seus sapatinhos, o velho batuta tá na área.


Natal... o dia mais melancólico do ano. Dia em que os solitários se sentem mais solitários, os miseráveis se sentem mais miseráveis, os explorados se sentem mais explorados, e por aí vai.

Natal é tempo de renovação. Renovação da fome, da desigualdade, do capitalismo, do consumo alienado, da exploração do homem pelo homem, da indignidade humana...

O natal deveria existir para celebrar o amor de Deus revelado através de Jesus Cristo. Mas eu não vejo Deus em mesas fartas contrastando com panelas vazias, ou em luzes de natal contrastando com terras indígenas alagadas por alguma hidrelétrica, ou em um rebanho de consumidores vorazes entre jingles natalinos da Coca-Cola, da Leader Magazine e do mercado Guanabara. Jesus é usado como desculpa para Papai Noel (filha da puta!) invadir nossas chaminés inexistentes e levar nosso dinheiro e nossa dignidade dentro de seu saco sem fundos que ele esconde no porta-malas do seu trenó voador, puxado pelas renas sorridentes (nossa, mais alguém viu isso? Acho que botaram algo na minha bebida.). Além do mais, ninguém me convence que Jesus é capricorniano.

Estava vendo TV agora mesmo e me indignei com a covardia de uma cena: um homem vestido de Papai Noel distribuía presentes a crianças pobres e uma senhora humilde chorava dizendo que ele era uma bênção na vida dela porque ela não tinha dinheiro pra comprar um presente para o filho. Pensei: capitalismo selvagem tá aí. A pobre senhora, assim como a maior parte da civilização ocidental, é levada a crer que tem alguma obrigação comercial no natal, que seu amor pela sua família é medido por sua capacidade de presentiá-la, fazendo com que ela se sinta culpada e até envergonhada por não poder realizar esse ideal capitalista. Isso é muita covardia! Esse é o momento em que Jesus irado destrói o templo e diz que em sua casa não deve haver comércio.

Eu nunca acreditei no bom velhinho, graças a um ódio de infância que minha mãe nutre pelo velho porque uma vez quando era criança lá na roça, pediu o ano inteiro pra ganhar uma boneca, foi uma boa menina, e no final das contas ganhou um guarda-chuva. Enquanto isso uma filhinha de papai que tinha escrotizado o ano todo ganhou uma boneca. Minha mãe, com sangue nos olhos, pensou algo mais ou menos assim: “Papai Noel (filha da puta!) rejeita os miseráveis! Eu quero matá-lo! Aquele porco capitalista. Presenteia os ricos, cospe nos pobres!” Desde então ela vem disseminando a discórdia entre o bom velhinho e o mundo. 



Meus pais alugaram uma casa para uma empresa que trouxe um grupo de dez trabalhadores da construção civil que vieram do Maranhão em busca de trabalho. Tudo que eles possuem de seu são suas mochilas de roupas e seus colchonetes. Estavam tristes, longe de suas famílias que não vêem há meses, não podem enviar presentes aos seus filhos. Eles enfrentam essa realidade todos os dias, mas caso consigam suportar, existe o natal pra fazer a gente se lembrar o quão fudidos nós somos. Como se desse pra esquecer. Deve ser por isso que todo mundo enche a cara no natal (beber pra esquecer). Além é claro da quase imposição de se estar com o coração cheio de amor e felicidade (beber porque está alegre). É proibido ficar triste no natal. A tristeza é obrigada a entrar em recesso de Dezembro a Fevereiro. Mas foi bom tê-los por aqui neste natal, saí da rotina natalina de ficar na internet depois de comer panetone e fofocar com as vizinhas, e fui jogar “toco” com eles.. É uma espécie de sueca maranhense. Acho que conseguimos nos divertir. Mais um natal superado.


E o que dizer daquele que é o mais esperado do ano? O belíssimo, magnífico: espírito natalino! Bem, o famoso espírito natalino é um caboclo canastrão que teima em baixar em meio mundo no natal. Do alcoólatra que fica um dia sem bater na mulher ao mega empresário que destina 0,001 % da renda das vendas de sua comida gordurosa para as criancinhas com câncer, todo o mundo ocidental é acometido por essa entidade, que desaparece com a mesma rapidez com que surge.

Eu proponho o exorcismo do caboclo, bem como propus (sem sucesso) um apagão na noite de natal, para nos lembrar que vivemos uma crise energética e uma era de escassez de recursos naturais e que portanto é no mínimo irracional insistirmos em pisca-pisca e árvore de natal da Lagoa. Isso já era! Entramos num novo estágio! Já é hora de reinventarmos nossos hábitos.


E o pobre do chester? Quem foi o o nazista que inventou o chester? Já não chega toda a crueldade que a indústria da carne derrama sem dó sobre os animais? Ainda tem que inventar uma nova espécie pra isso? O chester é o cordeiro sacrificado dos dias de hoje. Na minha casa não entra chester. Minha mãe adotou a causa.



Mas a maior incógnita do natal talvez seja a rabanada (...). Eu não sei quem foi a pessoa super esperta que inventou um pão duro, cheio de açúcar, frito, que diz a lenda fica mais gostoso no dia seguinte, mas tenho certeza de que essa pessoa foi quem lançou a moda da pegadinha. Rabanada certamente é a piada mais bem sucedida da história. Todo mundo acreditou que era sério e continuam comendo essa porcaria até hoje.

Bem, eu como uma boa “mal amada” que sou, poderia ficar aqui horas jogando no ventilador toda a merda da maior festa cristã desse mundo Judas, mas natal é tempo de alegria. Então o que me resta é curtir um pouco do maior sucesso natalino de todos os tempos, “Papai Noel (filho da puta!) Velho Batuta, dos Garotos Podres, e ansiar por mais uma “noite feliz, noite feliz...”