Tem um tempo que estou querendo escrever algo aqui sobre esse assunto, mas confesso que me dá preguicinha. É muito pedantismo...
Mas vamos lá. Meio do ano é tempo agitado para a vida universitária. Ou não... É época em que tem gente ingressando na universidade, gente se formando, gente viajando para os encontros nacionais... e também tem gente que só espera as férias começarem e acabarem, porque não possuem vida acadêmica para além da sala de aula. Por isso resolvi compartilhar um pouco da minha singela reflexão a respeito.
Quando você entra na universidade, acha que aquilo vai mudar sua vida. Às vezes até muda muita coisa. Nos dois ou três primeiros anos, você super valoriza o saber acadêmico, científico. Teoriza tudo, trava batalhas políticas como se fossem causas universais, ou então está ali só pra tirar a camisa nas chopadas mesmo, sem absorver nada de construtivo porque você acha que não vai precisar dialogar com o mundinho tecnocrata que você escolheu para atuar (afinal daqui a quatro anos você vai estar longe de tudo isso, trabalhando duro na empresa do papai). Você vai para os encontros de estudantes como quem vai para uma micareta, com aquela obrigação carnavalesca de se embebedar alegremente e de se envolver sexualmente com o máximo possível de pessoas que você mal conhece. Se você não segue religiosamente essa proposta, vão te desmoralizar.
Você também pode incorporar outros personagens: você pode ser o carinha pseudo várias coisas que é um vaidoso arrogante, mas come geral com aquele papinho gasto de que é pequeno burguês ser monogâmico, embora a namorada dele não esteja muito bem esclarecida sobre o assunto. Quem gosta muito dele é a feministazinha de classe média, que paga a cerveja do boteco com o cartão do papai. Ela se veste de hippie de shopping e vomita frases feitas que leu em algum livro que alguém falou que ela tinha que ler. Tem o novo sambista (afinal agora não é mais preciso se misturar para ser sambista, basta ir ao show do Casuarina na Fundição Progresso). Tem o maconheiro que não sobe o morro porque a realidade (que ele ajuda a sustentar) é muito cruel, melhor é mandar alguém buscar pra ele o suficiente pro fim de semana na Ilha do Mel com a namorada racista dele (aquela que foi duramente injustiçada pelo sistema de cotas, coitada. E o mérito, como é que fica?). Tem aquele que não percebeu que 1917 já passou e que é hora de se reinventar para revolucionar, porque o capitalismo se reinventa a cada minuto. Tem aquele que acredita que vai fazer a revolução armada, mas antes vai pregar marxismo-leninismo para o povo na CDD (ou machismo-lemismo, como diria a mãe do Zé Pequeno no livro), pois o pobre do povo precisa conhecer a verdade. Amém, igreja?
O corpo docente também não fica atrás. Se você encontrar cinco em toda a sua tragetória acadêmica que não estão ali pelo ego, é muito. A universidade é uma fogueira de vaidades. Há muitos programas de pesquisa que podem tratar dos mais diversos assuntos, mas isso depende de em quanto a CAPES está disposta a conceituar, o que pode significar uma boa valorizada no currículo Lattes do caboclo. Aliás, tá aí duas coisas com que você precisa aprender a lidar no meio intelectualóide, Lattes e CR, porque tudo vai girar em torno disso. Mas há sempre a alternativa de “largar o foda-se”.
E então você finalmente se forma e provavelmente vai continuar acreditando que inteligência tem a ver com saber acadêmico, “e você ainda acredita que um doutor, padre ou policial que está contribuindo com a sua parte para o nosso belo quadro social”, como Raul já dizia. Ou pode acontecer de você se formar e perceber que há muita vida e sabedoria lá fora e você sempre soube disso; que metade das amizades que você fez na universidade, eram amizades de ocasião; que 90% das brigas que você travou não são tão importantes agora; que 90% das ilusões que você tinha quando ingressou, foram duramente derrubadas e que você virou um intectualóide que fala muito mas não diz nada. Aí você faz um mestrado, um doutorado, você vai escrever sobre coisas que você desconhece, mas leu em algum lugar, e todos vão achar que você tem muito valor por isso.
Mas no fim das contas, vale a pena. “O doce não é doce sem o amargo” (Vanilla Sky). Apesar dos pesares, você faz verdadeiros amigos, amplia seus conhecimentos, ganha um canudo pra mostrar pra sua mãe, viaja... e depois você, que é aquele que se acha muito diferente dos anteriores, pode escrever um texto besta no seu blog besta (porque afinal você é underground), só que sem esquecer de colocar a referência nas suas citações.
Mas enquanto isso, larga um pouco do pé do Marx e olha em volta. Vem pra rua aprender o que nenhuma universidade no mundo vai te ensinar. Vem pra vida. “Caia na estrada e perigas ver” (Novos Baianos), porque o mundo acadêmico é pura punhetagem intelectual.
Referências Bibliográficas:
Gaspari, Mary. Punheta Acadêmica. Blogspot. Rio de Janeiro, 2010.
terça-feira, 29 de junho de 2010
Assinar:
Postar comentários (Atom)
E depois vc percebe que aprendeu bem mais nos corredores, batendo papo com reles mortais graduandos, do que dentro de sala de aula, onde se arrotava falácias e se colhia caras de quem tem conteúdo. Muitos professores mudaram minha vida (tipo, uns dois ou três, rs), mas a grande maioria eu prefiro esquecer, o que, aliás, já estou fazendo.
ResponderExcluirgostei... onde faço vestibular?
ResponderExcluirrs, sacanagem
aaf... lembrei que eu nunca boto referencia em porra nenhuma de trabalho... vai ver pq é onda tb, aquele estereotipo do cara que acha que tem personalidade propria, tipo na musica da malhação "só quero ser quem... eu sou!". Aí essa personalidade propria é igual a de todo mundo, rs. Esse texto lembra o titulo do seu blog, até quando o motor aguenta. O cerebro humano chega hora que pifa... faltou botar aí o índice de suicídio dos estudantes que não conseguem entrar na punheta academica...estudantes se formando e vendo a realidade brutal indo embora e sentindo falta do mundo dos sonhos, etc, etc... mas aí ia ficar trágico... mas o que seria de uma palhaçada sem uma tragédia?
falei errado, queria dizer "a graça não é graça sem uma tragédia"
ResponderExcluirVeja o filme argentino "Casas de fuego" de Juan Bautista Stagnaro. Procure saber!
ResponderExcluirMary muito bom...
ResponderExcluirReflexão fantástica...rs
BEijos
hahahahah
ResponderExcluirÓtimo. Melhor do que ser um idealista utópico que não se importa se todos os seus sonhos persistirem como sonhos sempre (como eu).
Pior que ainda tenho esperança nos 10% de cada coisa boa dessa vida... =/
Somos repetidores da "verdade científica",uma pena.
ResponderExcluir